É mais cômodo aprender Mandarim

Raul Seixas cantou “Eu nasci! Há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais”. Na verdade, nascemos há milhões de anos atrás e, se não vimos, ao menos temos conhecimento dos avanços e retrocessos da vida no Planeta Terra. Dez mil anos, de qualquer forma, soma muita história.

Só nos três últimos milênios fomos surpreendidos por transformações muito profundas. Tribos nômades deslocavam-se pela Europa, Arábia e Estepes Eslavas. Concomitante eram constituídos impérios poderosos na Babilônia, no Egito e, principalmente a partir de Roma. Nas Américas, Astecas, Incas e Maias também conseguiram organizar-se em impérios que possuíam o poder de domesticar plantas e animais e construir palácios e templos.

Qual faraó egípcio imaginaria o fim do império? Que imperador romano poderia prever tribos bárbaras fragmentando o grande império do Ocidente? Qual Inca suporia a destruição do império pelas mãos dos invasores europeus?

Também nós, com todo o conhecimento acumulado, mesmo percebendo transformações vertiginosas acontecendo diante de nossos olhos, somos incapazes de imaginar que estamos nos transportando para uma realidade diferente. Pensamos que apesar das crises tudo haverá de ser como dantes no quartel de Abrantes. Percebemos que tudo o que é moderno hoje é obsoleto amanhã, mas não enxergamos que essas contradições do sistema redundarão em algo novo, melhor ou pior, mas absolutamente diferente de tudo o que conhecemos até então em termos de organização política e social.

Grandes impérios desmoronaram, sistemas econômicos foram substituídos por novos modos de produção. Tudo passa, as grandes nações sofrem atualmente crises severas. Os muros que separam as favelas dos bairros de classe média, ou aqueles que separam países ricos dos pobres, por mais sólidos e elevados que sejam, não bastarão.

Aparecem os Buch, os Trumpp, os  Kim Jong-un, com os seus delírios de poder, mas quanto mais truculentos, quanto mais retrógrados, mais contribuem para as transformações.

No vácuo da crise das grandes nações alguns países tentaram estabelecer algo de novo, a exemplo do Brasil, Rússia, India, China e África do Sul (BRICS), mas ao que tudo indica no momento, apenas a China capacita-se para substituir as potências tradicionais.

No Brasil, quando estávamos levantando os nossos olhos para um pouco além do horizonte, eis que um golpe parlamentar e midiático devolve ao comando da nação a nossa elite plutocrática, incapaz de pensar um projeto de nação soberana. É essa plutocracia que garante a permanência no poder desse governo, mesmo sabendo que se trata de uma cleptocracia.

Pouco mais de um ano e Temer conseguiu um desmonte do Estado brasileiro muito maior do que o efetuado nos oito anos de mandato de FHC. Temer arrebenta o país porque é um governo fraco e se deixa levar pelo pensamento neoliberal, propagado pela Globo e congêneres e sustentado pela superestrutura do estado, constituída por um arcabouço jurídico que permite a vigência do status quo.

Tão forte e poderosa é a plutocracia brasileira, principalmente por intermédio da mídia neoliberal, que o povo brasileiro, em grande parte, se deixa levar pela propaganda, às vezes subliminar, e acredita que a privatização é a salvação da pátria. A privatização da Petrobrás, das usinas hidroelétricas, dos aeroportos e dos bancos públicos passa a ser vista como solução, quando na verdade representa a perda da soberania. A destruição das grandes construtoras, da indústria naval, das grandes exportadoras de carnes é vista como um mal necessário para o fim da corrupção, quando na verdade é a abertura da porteira para a entrada do capital internacional. Que se matassem os carrapatos, não as vacas.

E o Brasil, esse milagre tropical, que tudo tem para ser uma potência do bem, pacífica, fraterna e mais igualitária, vai se transformando em uma república de bananas. É preciso ver e enxergar, dizia meu pai, mas a elite brasileira não enxerga que é necessário libertar o povo da escravidão para que ela própria não se escravize aos interesses internacionais.

O Império do Norte está ruindo e o Brasil perdendo a oportunidade de ser o grande líder do Ocidente. Mas, enfim, para a nossa plutocracia, é mais fácil esquecer o inglês e aprender o mandarim do que buscar construir uma nação melhor.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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